domingo, 18 de agosto de 2024

Em Busca de Mim - Viola Davis


É uma biografia escrita pela própria autora, Viola Davis, na qual, ela narra desde o seu nascimento até torna-se uma atriz reconhecida internacionalmente. Inicia-se contextualizando a pobreza em que vivem muitas pessoas dos Estados Unidos da América. Viola e sua família são todas negras retintas, moram em um conjunto habitacional popular, no qual os apartamentos são cedidos pelo governo de seu Estado, Rhod Island, para famílias em vulnerabilidade social. 

O apartamento é entregue a sua família caindo aos pedaços e assim permanece por todo período em que Viola morou nele, ou seja, até o início da idade adulta. Sua família era muito pobre e permanentemente estavam mobilizados em suprir a principal necessidade da família, a alimentação. O apartamento não tinha aquecedor, localizado no bairro de Central Falls, região norte dos EUA, onde as temperaturas no inverno chegam a 2ºC podendo cair para -5ºC ou mais. Neste sentido, o sofrimento era intenso para Viola e sua família, além do frio intenso, o apartamento era cheio de buracos e rachaduras nas paredes, o que causava infestações de insetos e ratos dentro da moradia. 

Seus pais sobreviviam de benefícios sociais governamentais de Central Falls, o que não era suficiente para sobrevivência de todos, visto que, a família era composta por oito pessoas, o pai, a mãe e 6 filhos contando com Viola. Neste sentido, seus pais saiam em busca de empregos temporários e na maioria das vezes precários, que no Brasil chamamos de Bicos, para complementar o sustento da família. Seus pais não tinham instrução escolar suficiente e nem qualificação profissional formal, o que os impendiam de estarem em trabalhos mais consistentes. Nessas idas e vindas de seu pai ao trabalho e fuga da realidade, ele torna-se alcoólico, o que potencializava a violência doméstica dentro de casa.  

Viola então retrata, vários episódios de sua infância em que presenciava a violência física de seu pai contra sua mãe, onde ela e seus irmãos permaneciam imobilizados pela violência doméstica, mas também pela dependência socioeconômica. Toda essa situação, trouxe reflexos nas vivências sociais de Viola. Principalmente na escola, onde constantemente estava com roupas velhas e sujas, visto que a própria Viola as lavava, mas por ter poucas peças de roupa e serem lavadas a mão com água não aquecida em uma região muito fria, as roupas estavam sempre húmidas e com mal cheiro por não ter a devida secagem. A autora apresenta diversos episódios de constrangimento público, por estar com cheiro de urina e roupas úmidas na escola. 

Entao, Viola torna-se arredia desde pequena, pois os outros estudantes da escola a repudiavam pela pobreza extrema, que era explicitada em suas roupas, cheiro e fome constante. A pobreza de Viola era na maioria das vezes associada a sua negritude, onde os estudantes demonstravam o racismo através de violência física, perseguições e xingamentos onde relacionava seu cheiro, cabelo e roupas a sua negritude. Vale destacar, que o racismo não era apenas exposto apenas pelos estudantes, mas também por professores e demais profissionais da escola. 

Porém, na escola que Viola começa a sonhar em trabalhar como atriz, onde participa de uma peça amadora na escola.  Logo após um professor a incentiva a participar de uma competição externa de teatro, Viola fica receosa, afinal não tinha dinheiro para inscrição da competição e pouca alto estima em acreditar no seu talento. Porém, o professor paga a inscrição e após esse concurso, Viola se inscreve em um curso de atuação no qual foi financiado através de bolsa. 

Depois de formada na escola, o sonho de Viola é forma-se atriz em uma das melhores escolas de atores dos EUA, porém achava impossível, mas ela insiste e mesmo diante das dificuldades econômicas, entra em uma das melhores escolas de teatro dos EUA, Rhode Island College, na qual, precisou de bolsas de estudo e realizar trabalhos no contraturno aos estudos para permanecer estudando. 

Da mesma forma que Viola sofreu racismo na escola, ela relata o racismo velado e muitas vezes explicito dentro das escolas de teatro e nas seleções de atores para peças, filmes ou programas televisivos. Nos quais, para as mulheres negras nunca é cogitado os papéis principais, sobrando os papeis de domésticas ou mulheres ultra sexualizadas estereotipadas pela negritude. Igualmente quando conseguem um papel sem essas marcas sociais, suas atuações são com falas reduzidas e pouca importância dentro de cena. 

Viola passa por muitos percalços quando torna-se atriz, visto que, mesmo formada em uma das melhores escolas de teatro de sua região, e sendo selecionada para papéis em peças teatrais, os salários do início de sua carreira eram baixos. No entanto, as peças geralmente aconteciam em cidades com mais holofotes, o que tornava os alugueis caros, neste sentido muitas vezes Viola morava em apartamentos cedidos por outros atores, ou dividia alugueis com outros atores na mesma situação. Apartamentos esses que muitas vezes relembravam o sabor da pobreza de sua infância. 

Mas, ela continuou a insistir em sua vida profissional, e posteriormente depois de um caminho árduo progrediu profissionalmente, com atuações em peças, filmes e séries de renome, com atores historicamente respeitados nos EUA, o que resultou em estar no mesmo patamar que esses atores. 

Somado a essa progressão profissional, Viola sempre ajudou sua família financeiramente e deu auxílio emocional a seus pais e irmãos. As reflexões da obra são relevantes, no tocante em que destaca, que ela tinha sérias dificuldades de acreditar em si mesma, de ter um parceiro amoroso que a respeitasse, de ser profissionalmente bem sucedida e de ter uma vida estável financeiramente e emocionalmente. Nos levando a concluir como o racismo, a pobreza e as violências a afetaram. E para finalizar o livro, ela relata sua reconciliação interna com o passado, onde aprendeu a ter mais empátia com as falhas de seus pais. Da mesma maneira, acreditou e concretizou se relacionar um homem que a respeitasse, na qual ela constituiu uma família e posteriormente adotaram uma menina. 






sexta-feira, 28 de junho de 2024

A Casa dos Espíritos - Isabel Allende


Ganhei esse livro em 2023, já tinha ouvido falar bem dele em rodas de conversas. Mas, demorei para começar sua leitura, devido a falta de tempo, mas, confesso que devia ter começado antes. Rsrs😁

Trata-se de um romance latino americano, a obra foi escrita por Isabel Allende Llona, escritora chilena/norte americana. A história se passa no Chile, começado por volta da década de 1920, porém a narrativa percorre praticamente boa parte do século XX, é possível perceber que o realismo é uma característica presente na escrita da autora nesta obra especificamente. A narrativa, inicia-se através da união de duas famílias poderosas da região, a família Del Valle e a família Trueba, com casamento de Esteban Trueba e Clara Del Valle. 

Durante toda obra é destacado as características da sociedade dominada pelos princípios conservadores e pelo patriarcado, apresentados através do personagem Esteban Trueba. Da mesma maneira, apresenta a persistência dos valores da generosidade, altruísmo e do humanismo, apresentados através da personagem Clara Del Valle. 

A obra apresenta comportamentos políticos costumeiros de grupos conservadores, ligados a prática agrícola. Apresentando suas atuações para manterem-se no poder daquele país, o que ocorreu e ocorre nos demais países latino-americanos, respeitando as especificidades de cada um. Além dessas analises, a publicação apresenta a cultura de dominação socioeconômica dos grandes latifundiários sobre os camponeses, que em sua maioria são oriundos dos povos originários dos territórios latino-americanos. 

Igualmente, é apresentado a resistência camponesa através do personagem Pedro Terceiro, trabalhador do campo na fazenda da família Trueba. Personagem que se conscientiza de sua condição de explorado e dissemina seus conhecimentos para os outros trabalhadores camponeses nas rodas de conversa do campo. 

Da união das famílias Del Valle e Trueba, Clara e Esteban tiveram três filhos: Blanca e os gêmeos Jaime e Nicolás. Jaime tornou-se médico, mas nunca ambicionou ganhar grandes montantes com a profissão, por isso exerceu sua profissão em uma emergência de hospital público, dedicando-se a atender pessoas sem recursos. Nicolás, passou a vida a buscar empreendimentos criativos e sua espiritualidade, também sem interesse em recursos financeiros. 

E por fim, Blanca que, apaixona-se pelo camponês comunista e militante da causa, Pedro Terceiro García. Paixão mútua que iniciou-se na adolescência de ambos, enquanto conviviam na fazenda da família Trueba, Las três marias. Do fruto dessa paixão, nasce a pequena Alba, que na adolescência envolve-se com movimento estudantil universitário, resultando também em apaixonar-se por um estudante da militância de esquerda chilena.    

Com passar dos anos a família com práticas nada convencionais leva o velho Esteban Trueba torna-se cada vez mais ranzinza e por vezes violento com sua família, inclusive com seu "grande amor", sua esposa Clara. A matriarca Clara era espiritualizada e praticava a vidência desde a adolescência, o que sempre impressionou tanto a família quanto as pessoas aos seu redor. Além da clarividência, criou os filhos sobre os valores da caridade e a expansão de cuidados espirituais para com todos que os buscassem. 

A família ocupa os principais espaços políticos e sociais da região, Esteban torna-se senador e a história avança até os anos 1970, quando um golpe militar derruba o então eleito governo de esquerda, de Salvador Guillermo Allende Gossens (1908-1973), no qual governou o pais de 1970 à 1973.

O pequeno governo de Allende propõe mudanças circunstanciais no tocante a socialização da economia chilena, se estendendo ao plano de reforma agrária. Desta maneira, a posse das terras da família Trueba, a fazenda Las Três Marias, entra na socialização de terras do estado chileno, visto que foram habitadas historicamente pelos povos originários, que foram absorvidos pelo trabalho agrícola em troca de pouca ou nenhuma remuneração. No qual, o velho Esteban Trueba acreditava fazer um grande favor aos camponeses ao "dar-lhes" o que comer e uma casa para morar. E caso houvesse alguma reclamação dos camponeses sobre qualquer injustiça observada, eram respondidos com castigos físicos. Enfim, no governo Allende houve a proposta de mudança desse sistema de subjugação, por isso dá para entender durou tão pouco o governo.  

Mesmo com toda influência externa política e os desejos políticos ligados a direita conservadora, o senador Esteban não conseguia ter a mesma influência dentro da própria casa. Sua esposa, filhos e neta seguiam caminhos opostos aos seus desejos. Os relacionamentos, as profissões e as atuações na sociedade sempre estavam ligadas a promoção da igualdade e a solidariedade. 

A violência do golpe militar chega até a família, Jaime é assassinado pelos militares, Blanca e Pedro Terceiro se refugiam para não serem mortos. E a menina Alba, vai presa acusada de refugiar perseguidos políticos de esquerda. Após esses acontecimentos e assistir a derrocada de sua família e da democracia, o velho Esteban Trueba, que havia apoiado o golpe militar, percebe que seu cargo de senador e seu poder econômico não servia mais para nada dentro de um regime ditatorial.

domingo, 1 de outubro de 2017

Análise: Crepúsculo dos ídolos

A principal característica de Friedrich Nietzsch é escrever por aforismo.

Mas o que é Aforismo?
É um texto breve que enuncia uma regra, um pensamento, um princípio ou uma advertência. É um estilo de sentença que articula literatura e filosofia em que a percepção da vida, da sociedade, ou tudo que venha a ser objeto de pensamento, é realçado pela expressividade de uma mensagem verdadeira e concisa. É qualquer forma de expressão sucinta de um pensamento moral. Do grego “aphorismus”, que significa “definição breve”, “sentença”. Alguns sinônimos de aforismos são: ditado, máxima, adágio, axioma, provérbio e sentença.

Para Nietzsche existem dois espíritos antagônicos: o apolíneo e o dionisíaco.
a) Dionisíaco: o deus da música e da embriaguez, o deus que não habita o Olimpo (reino do racionalismo); é a força vital, a alegria, o excesso; a ação, a emoção o sentimento.
b) Apolíneo: o surgimento da filosofia representa o que Nietzsche chama o espírito apolíneo, derivado de Apolo, o severo deus da racionalidade, da medida, da regra, da lei, do método, do equilíbrio, da moralidade.

O que é niilismo? Do latin – Nihilismus. Doutrina segundo a qual não existe qualquer verdade moral ou hierarquia de valores. Em Nietzsche é empregado como para qualificar sua oposição radical aos valores morais tradicionais e às tradicionais crenças. Os valores devem ser afirmativos da existência real do homem, de sua vontade e não da tradição.
• A decadência dos valores teria surgido com Sócrates, que elevou a questão da moral ao comportamento humano, desvinculando-o do prazer que deveria ser buscado por todos.
• A moral defendida por Nietzsche é radical, anticristã e o seu objetivo é o poder, a força e vê na compaixão uma fraqueza a ser combatida.

O Eterno Retorno
É a fórmula que pode sintetizar todo o pensamento de Nietzsche. Ele ataca o platonismo (dualismo platônico) e o paraíso cristão (mundo divino). Para ele só esse mundo é real com suas constantes mudanças. Há apenas perspectivas diferentes sobre um real em transformação e que se repete num eterno retorno → teste pelo qual o homem deveria passar: a vida, revivida inúmeras vezes, não trazendo nada de novo o que pode levar o homem à destruição ou exaltação, dependendo de sua capacidade para superar e admitir essa contínua repetição. Deve-se aceitar a vida com o ela é.

O super-homem
Übermensche: aceitar a vida não é o mesmo que aceitar o homem. O super-homem é a vontade de poder, determinando a nova ordem de valores. É o líder guerreiro, altamente disciplinado. É o novo homem que quebrará as velhas cadeias e criará um novo sentido na terra. É o homem que vai além do homem. O cristianismo doma o espírito e enfraquece a vontade de poder, da conquista, da paixão. O santo cristão é o resultado do medo do inferno e não do amor à humanidade.

• A racionalização histórica levava o homem a "perder-se ou destruir seu instinto fazendo com que ele não ouse soltar o freio do 'animal divino' quando a sua inteligência vacila e o seu caminho passa por desertos.

• Ideia da necessidade da formação de uma nova elite - não contaminada pelo cristianismo e pelo liberalismo - e que ao mesmo tempo os transcendesse, acometeu Nietzsche desde muito cedo. Mostrou-se obcecado pela formação de uma seleta falange intelectual responsável pela transmutação de todos os valores, cuja obrigação e dever maior era a proteção de uma cultura superior ameaçada pela vulgaridade democrática.

O Crepúsculo dos Ídolos
É obra que apresenta uma crítica aniquiladora de todas as "verdades" que se entronizaram no Ocidente. Crepúsculo do Ídolos é um dos escritos centrais de Nietzsche pela violência com que fustiga a religião, a política, a razão e a ciência, ao mesmo tempo que promove a imagem do homem vitalmente liberto.
“Não sou, por exemplo, nenhum bicho-papão, nenhum monstro de moral – sou até mesmo uma natureza oposta à espécie de homem que até agora se venerou como virtuosa. Entre nós, parece-me que recisamente isso faz parte de meu orgulho. Sou um discípulo do filósofo Dionísio, preferiria antes ser um sátiro do que um santo”. (Ecce Homo, prólogo). É assim que Nietzsche se descreve em sua autobiografia. Idolatrado por alguns, menosprezado por outros, ele é, de fato, um irreverente – ou talvez, melhor seria dizer, um extemporâneo.
Trata-se de uma síntese e introdução a toda a sua obra, e ao mesmo tempo uma "declaração de guerra". É com espírito guerreiro que ele se lança contra os "ídolos", as ilusões antigas e novas do Ocidente: a moral cristã, os grandes equívocos da filosofia, as ideias e tendências modernas e seus representantes. De tão variados e abrangentes, esses ataques compõem um mosaico dos temas e atitudes do autor: o perspectivismo, o aristocratismo, o realismo ante a sexualidade, o materialismo, a abordagem psicológica de artistas e pensadores, o antigermanismo, a misoginia. O título é uma paródia do título de uma opera de Wagner, Crepúsculo dos deuses. No subtítulo, a palavra "martelo" deve ser entendida como marreta, para destroçar os ídolos, e também como diapasão, para, ao tocar as estátuas dos ídolos, comprovar que são ocos.

Por Friedrich Nietzsche
“O resto é aborto e ainda não ciência: quero dizer, metafísica, teologia, psicologia, teoria do conhecimento. Ou ciência formal, teoria dos signos: como a lógica e aquela aplicada, a matemática. Nelas, a realidade absolutamente não aparece, nem sequer como problema; tampouco pergunta acerca do valor que, afinal, possui uma convenção de signos como a lógica.” (NIETZSCHE: 1888, p. 36)

Principais obras: Assim falou Zaratustra – 1883-85 (onde expõe a ideia do eterno retorno e da derrota da moral cristã pelo super-homem); A Origem da Tragédia – 1872 – seu primeiro livro onde faz uma crítica a cultura grega e sua influência no desenvolvimento do pensamento ocidental. E em 1888 o Crepúsculo dos Ídolos – como filosofar a marteladas.

Bibliografia:
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos Ídolos, ou, Como se filosofa como o martelo. Tradução de Renato Zwick. Porto Alegra, Rs: L&PM, 2017.
MAZAI, Norberto. Resenha Estudo de Filosofia. Disponível em: Acesso em 01 de outubro de 2017.

(QUESTÃO PAS-UNB 3ª ETAPA-2016)
Com relação à interpretação de aforismos retirados da obra Crepúsculo dos Ídolos, de Friedrich Nietzsche, julgue os itens de 1 a 3 e assinale a opção correta no item 4, que é do tipo C.
1. Em “O verme se enconcha quando é chutado. Essa é a sua astúcia, ele diminui com isso a probabilidade de ser novamente chutado. Na língua da moral: humildade”, Nietzsche relaciona a ideia cristã de humildade à covardia.
2. No aforismo “Que não se venha a cometer nenhuma covardia contra as próprias ações! Que não as abandonemos em seguida! O remorso é indecente.”, Nietzsche defende a noção de responsabilidade social.
3. No aforismo a seguir, escrito na porta da casa de um antissemita: “Como? Vós escolhestes a virtude e o peito estufado, mas olhais ao mesmo tempo invejosamente para as vantagens dos inescrupulosos? Com a virtude renuncia-se, contudo, às ‘vantagens’ (...)”, Nietzsche critica a pretensa virtude da renúncia, que, para ele, é uma forma de ocultar fraquezas.
4. No aforismo “Quem não sabe colocar sua vontade nas coisas ainda insere nelas ao menos um sentido: isto é, crê que uma vontade já esteja nelas (princípio da ‘fé’)”, Nietzsche sustenta, entre outras teses, a de que as coisas não possuem vontade de qualquer tipo.
5. No aforismo “O homem criou a mulher. A partir de que, porém? De uma costela de seu Deus ― de seu ‘Ideal’ (...)”, Nietzsche sustenta que
a) A versão bíblica do surgimento da mulher é verdadeira, a despeito de o autor ser um crítico das religiões em geral, e do cristianismo em particular.
b) A versão bíblica do surgimento da mulher é uma projeção masculina que se pretende justificar pela referência a um ato divino.
c) A mulher é um ideal divino, e sua criação foi um ato da vontade de potência de Deus.
d) Deus é um ideal que carrega consigo traços femininos e, por isso, foi criado pelos homens.




sábado, 19 de agosto de 2017

Análise: Dossiê Darwin




Para homenagear os 200 anos de Charles Darwin, a Revista Darcy publica um dossiê com 26 páginas sobre esse inglês inquieto que passou a infância colecionando insetos e que na juventude se aventurou por terras brasileiras. Repórteres e articulistas da apresentam bem mais do que uma revisão da vida e obra de Darwin. Em matérias e artigos, eles mostram a herança darwinista em laboratórios e salas de aula da Universidade de Brasília e refletem sobre as encruzilhadas das teses evolucionistas.

Chales Darwin, nasceu em Shropshire, Inglaterra, em 12 de fevereiro de 1809. De uma família abastarde, era o quinto filho de 6 filhos. Estudou medicina, direito e também teologia, mas não terminou nenhum dos cursos. No fim seguiu a carreira de naturalista, ao qual desde a infância já lhe trazia paixão.

Resumindo a teoria:

Evolucionismo é uma teoria elaborada e desenvolvida por diversos cientistas para explicar as alterações sofridas pelas diversas espécies de seres vivos ao longo do tempo, em sua relação com o meio ambiente onde elas habitam. O principal cientista ligado ao evolucionismo foi o inglês Charles Robert Darwin (1809-1882), que publicou, em 1859, a obra Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural ou sua conservação das espécies favorecidas na luta pela vida, ou como é mais comumente conhecida, A Origem das Espécies.

Darwin elaborou sua principal obra a partir de uma pesquisa realizada em várias partes do mundo. Nessa viagem, o cientista inglês pôde perceber como diversas espécies aparentadas possuíam características distintas, dependendo do local em que eram encontradas.

Darwin pôde perceber ainda que entre espécies extintas e espécies presentes no meio ambiente havia características comuns. Isso o levou a afirmar que havia um caráter mutável entre as espécies, e não uma característica imutável como antes era comum entender. As espécies não existem da mesma forma ao longo do tempo, elas evoluem. Durante a evolução, elas transmitem geneticamente essas mudanças às gerações posteriores.

Entretanto, para Darwin, evoluir é mudar biologicamente (e não necessariamente se tornar melhor), e as mudanças geralmente ocorrem para que exista uma adaptação das espécies ao meio ambiente em que vivem. A esse processo de mudança em consonância com o meio ambiente Charles Darwin deu o nome de seleção natural.

A teoria elaborada por Charles Darwin causou grande polêmica no meio científico. Isso mesmo tendo existido antes dele cientistas que já afirmavam que toda a alteração no mundo orgânico, bem como no mundo inorgânico, é o resultado de uma lei, e não uma intervenção miraculosa, como escreveu o naturalista francês Jean-Baptiste de Lamark (1744-1829).

Havia ainda à época uma noção de que as espécies tinham suas características fixadas desde o início de sua existência, não havendo o caráter de mudança não divina apontada pelo cientista inglês. Tal concepção era fortemente influenciada pela filosofia religiosa cristã, da criação por Deus de todos os seres vivos desde o início do mundo. Até Charles Darwin teve suas convicções religiosas abaladas com os resultados de suas pesquisas, o que o levou a se recusar a apresentá-los por cerca de vinte anos.

Uma polêmica constante na teoria evolucionista está relacionada com os seres humanos. No que se refere à evolução de homens e mulheres, o evolucionismo indica que nós temos um ancestral comum com algumas espécies de macacos, como o chimpanzé. Pesquisas recentes de decodificação do genoma indicam uma semelhança de 98% entre os genes de seres humanos e chimpanzés. Porém, isso não quer dizer que o homem descende do macaco. Indica apenas que somos parentes.

(QUESTÃO PAS 3ª ETAPA/2013) A existência de sociedades como a de algumas espécies de abelhas nas quais apenas a rainha é reprodutora é um enigma evolutivo tão antigo quanto a própria teoria da evolução: Charles Darwin considerava esse fato um entrave à sua argumentação. No caso das abelhas, rainhas e operárias não apresentam diferenças genotípicas que expliquem essa diferença em castas, mas sim diferenças no alimento oferecido a cada uma das castas já no estágio larval. Sistemas altamente ordenados cuja maior parte dos participantes é estéril e divide tarefas como o cuidado com os jovens e outras funções essenciais à manutenção da colônia são denominados eussocialidade. Pesquisa concluiu que um aumento na complexidade das redes que interligam os genes está por trás da evolução da eussocialidade. Há alterações nos promotores dos genes das espécies mais sociais que aumentam potencialmente a capacidade desses promotores de se ligarem a produtos produzidos por diversos genes. Esses resultados indicam que há um papel dos genes na eussocialidade, embora não haja uma receita genética única para a socialidade e novas características possam aparecer a cada novo surgimento desse tipo de organização. A complexidade das redes gênicas é um fator que parece ser essencial.

Tendo o texto acima como referência e considerando os múltiplos aspectos a ele relacionados, julgue os itens
1- Interações do tipo epistasia são exemplos das redes genéticas a que o texto se refere, de modo que o aumento na “complexidade das redes gênicas” (R.21) pode significar o aumento do número de genes com relações epistáticas, em comparação a espécies sem eussocialidade.
2- De acordo com o texto, a eussocialidade está relacionada a diferentes alelos de um gene específico, o que explica a vantagem evolutiva desse fenótipo.
3- Darwin concluiu com suas observações que a ocorrência de mutações gênicas é responsável pela mutabilidade das espécies.
4- Infere-se do texto que o entrave enfrentado por Darwin com relação à eussocialidade deve-se à discrepância entre a seleção natural (um modelo evolutivo embasado na seleção de indivíduos com fenótipos mais adequados a certos ambientes) e a seleção com base em genótipos, como a que ocorre em algumas populações de abelhas.

(QUESTÃO – ENEM/2009) Os ratos Peromyscus polionotus encontram-se distribuídos em ampla região na América do Norte. A pelagem de ratos dessa espécie varia do marrom claro até́ o escuro, sendo que os ratos de uma mesma população têm coloração muito semelhante. Em geral, a coloração da pelagem também é muito parecida acordo solo da região em que se encontram, que também apresenta a mesma variação de cor, distribuídas ao longo de um gradiente sul-norte. Na figura abaixo, encontram-se representadas sete diferentes populações de P. polionotus. Cada população é representada pela pelagem do rato, por uma amostra de solo e por sua posição geográfica no mapa. O mecanismo evolutivo envolvido na associação entre cores de pelagem e de substrato é:

A) A alimentação, pois pigmentos de terra são absorvidos e alteram a cor da pelagem dos roedores.
B) O fluxo gênico entre as diferentes populações, que mantém constante a grande diversidade interpopulacional.
C) A seleção natural, que, nesse caso, poderia ser entendida como a sobrevivência diferenciada de indivíduos com características distintas.
D) A mutação genética, que, em certos ambientes, como os de solo mais escuro, tem maior ocorrência e capacidade de alterar significativamente a cor da pelagem dos animais.
E) A herança̧ de caracteres adquiridos, capacidade de organismos se adaptarem a diferentes ambientes e transmitirem suas características genéticas aos descendentes



domingo, 13 de agosto de 2017

Análise: Cibercultura, alguns pontos para compreender a nossa época - André Lemos


Resumo do texto
O autor André Lemos trabalha o conceito de “Cibercultura” em seus diversos aspectos, define como cibercultura como marcada por tecnologias digitais na contemporaneidade. Ressalta que o uso das tecnologias digitais está para atualização cientifica e futura manipulação humana de dados.
A nova dinâmica técnico-social da cibercultura instaura uma estrutura midiática ímpar na história da humanidade onde, pela primeira vez, qualquer indivíduo pode, a priori, emitir e receber informação em tempo real, sob diversos formados e modulações (escrita, imagética e sonora) para qualquer lugar do planeta. Esse fenômeno inédito alia-se ainda a uma transformação fundamental para a compreensão da cibercultura, a saber, a transformação do computador pessoal e um instrumento coletivo e deste ao coletivo móvel (com a atual revolução do “Wi-Fi”, que será com certeza a nova etapa da cibercultura).

Porém a exclusão digital é um fato, embora não seja a única em países como o Brasil. Para além dessa constatação devemos reconhecer que não há mídia totalmente democrática e universal, pois a mídia impressa é lida por uma minoria e metade da população mundial nunca utilizou um telefone. No entanto, podemos dizer que a perseguição da humanidade está associada ao crescimento da artificialização do mundo e a colocação em disponibilidade de cada vez mais escolha informativa. O aumento pode ser constatado se olharmos sob uma perspectiva histórica, desde as sociedades primitivas, fechadas, até as sociedades abertas e avançadas da atualidade. Temos ao nosso dispor cada vez mais informações. A internet é hoje a ponta desse fenômeno. Devemos assim lutar para garantir o acesso a todos, condição essa fundamental para que haja uma verdadeira apropriação social das novas tecnologias de comunicação e informação.

As práticas comunicacionais da cibercultura são inúmeras e algumas verdadeiramente inéditas. Dentre elas podemos elencar a utilização do e-mail, os chats, os muds, jogos tipo role playing games, as lans house, as listas de discussão livres e temáticas, os weblogs, novo fenômeno de apresentação do eu na vida quotidiana (Lemos, 2002c) onde são criados coletivos, diários pessoais e novas formas jornalísticas, sem falar nas formas tradicionais de comunicação que são ampliadas, transformadas e reconfiguradas com o advento da cibercultura a exemplo do jornalismo online, das rádios online, das TVs online, das revistas e diversos sites de informação espalhados pelo mundo. A cibercultura é recheada de novas maneiras de se relacionar com o outro e com o mundo.

Trata-se aqui da migração dos formatos, da lógica da reconfiguração e não do aniquilamento de formas anteriores. Não é transposição e não é aniquilação. Estamos mais uma vez diante da liberação do pólo da emissão, do surgimento de uma comunicação bidirecional sem controle de conteúdo. E novos instrumentos surgem a cada dia.

A arte na cibercultura vai abusar da interatividade, das possibilidades hipertextuais, das colagens (sampling) de informações (bits), dos processos fractais e complexos, da não linearidade do discurso. A arte passa a reivindicar, mais do que antes, a ideia de rede, de conexão, transformando-se em uma arte da comunicação eletrônica. O objetivo é a navegação, a interatividade e a simulação para além da mera exposição/audição.

O corpo sempre foi um constructo cultural e está imbricado no desenvolvimento da cultura. Nesse sentido, o corpo da cibercultura é um corpo ampliado, transformado e refuncionalizado a partir das possibilidades técnica de introdução de micro-máquinas que podem auxiliar as diversas funções do organismo. Assim próteses nanotecnológicas regidas pelas tecnologias digitais podem ampliar e reformular funções ortopédicas, visuais, cardíacas, entre outras.

As cidades contemporâneas já estão sob o signo do digital e basta olharmos à nossa volta para constatarmos celulares, palms, televisão por cabo e satélite, internet de banda larga e wireless, cartões inteligentes, etc. Assim, devemos repensar o uso das novas tecnologias da cibercultura no espaço urbano. O que é o espaço urbano hoje, onde estar perto não é estar no mesmo lugar? O que é o lugar (rua, praça, monumentos) quando temos possibilidade de teletrabalho, tele-estudo, telemedicina? A questão da cidade é crucial para a cibercultura.

Leis da Cibercultura.

Uma primeira é a lei da Reconfiguração. Devemos evitar a lógica da substituição ou do aniquilamento. Em várias expressões da cibercultura trata-se de reconfigurar práticas, modalidades midiáticas, espaços, sem a substituição de seus respectivos antecedentes.

A segunda é a Lei da Liberação do pólo da emissão. As diversas manifestações
Socioculturais contemporâneas mostram que o que está em jogo como o excesso de informação nada mais é do que a emergência de vozes e discursos anteriormente reprimidos pela edição da informação pelos mass media. A liberação do pólo da emissão está presente nas novas formas de relacionamento social, de disponibilização da informação e na opinião e movimentação social da rede. Assim chats, weblogs, sites, listas, novas modalidade midiáticas, e-mails, comunidade virtuais, entre outras formas sociais, podem ser compreendidas por essa segunda lei.

A terceira lei é a da Conectividade generalizada que começa com a transformação do PC em CC, e desse em CC móvel. As diversas redes sócio técnica contemporâneas mostram que é possível estar só sem estar isolado. A conectividade generalizada põe em contato direto homens e homens, homens e máquinas mas também máquinas e máquinas que passam a trocar informação de forma autônoma e independente. Nessa era da conexão o tempo reduz-se ao tempo real e o espaço transforma-se em não espaço, mesmo que por isso a importância do espaço real, como vimos, e do tempo cronológico, que passa, tenham suas importâncias renovadas.

Devemos assim estar abertos às potencialidades das tecnologias da cibercultura e atentos às negatividades das mesmas. Devemos tentar compreender a vida como ela é e buscar compreender e nos apoderar dos meios sócio técnicos da cibercultura. Isso garantirá a nossa sobrevivência cultural, estética, social e política para além de um mero controle maquínico do mundo. O fenômeno ainda está em sua pré-história e esse objeto dinâmico se transformará com certeza.

QUESTÕES (PAS: 3ª ETAPA-2013)
Cibercultura é a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais. Já se vive a cibercultura. Ela não é o futuro que vai chegar, mas o presente (home banking, cartões inteligentes, celulares, palms, voto eletrônico, imposto de renda via rede, entre outros). Trata-se assim de escapar, seja de um determinismo técnico, seja de um determinismo social. A cibercultura representa a cultura contemporânea, sendo consequência direta da evolução da cultura técnica moderna.
André Lemos. Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa época. In: Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003 (com adaptações)

A festa dhies é um dia de celebração marcado por um contexto religioso. Em latim, le dies festus é o dia ‘tocado’ de um signo especial. É o dia da demonstração pública pela qual se deseja ‘tocar’ o espírito do próximo, atrair fortemente sua atenção, mostrar evidência, fazer a celebração triunfar, manifestá-la. Como demonstração pública, a festa possibilita que as pessoas se mostrem para aqueles que desejam olhar, observar evidências e realizar o envolvimento com gente que celebra.
Maria Geralda Almeida. Sentidos das festas no território patrimonial e turístico. In: Valor patrimonial e turismo: limiar entre história, território e poder. São Paulo: Expressão Popular, 2012, p. 158.

A respeito das ideias contidas nos trechos de textos acima e dos múltiplos aspectos a elas relacionados, julgue os próximos itens.
1) As técnicas e as tecnologias atuais trazem novas maneiras de ser, de pensar e de viver, em que a curta duração das coisas e das relações surge como razão singular.
2) A dimensão técnico-científica e cultural da contemporaneidade é totalizante e universal, apesar das contradições que a acompanham, como o individualismo.
3) A história do século XX é também marcada pela emergência de uma sociedade de massas, representada, entre outros aspectos, pela crescente universalização do acesso à educação, pela expansão das mídias e por uma exuberante indústria do entretenimento, de que seriam exemplos o cinema, a televisão, a música e os esportes.
4) Os dois fragmentos de textos se contrapõem na medida em que tratam de signos da modernidade — acerca do advento técnico — e da tradição — a respeito das relações sociais.
5) Sendo o espaço urbano das grandes cidades marcado pelo distanciamento dos que nelas vivem, as festas sacras representam resistências nas grandes cidades brasileiras, por guardarem ainda o caráter proximal e afetivo mencionado no segundo texto.

sábado, 29 de julho de 2017

Análise: Poética - Manuel Bandeira



Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
Protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
Do amante exemplar com cem modelos de cartas
E as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação

Análise
De Caráter modernista, utiliza versos livres, de repetição, supressão de regras de pontuação e alguns retratam imagens negativas sobre os valores dos movimentos anteriores, estas formas traduzem a liberdade do movimento modernista. O verso livre não utiliza as regras tradicionais tanto na métrica e na versificação, o qual baseia seu efeito poético principalmente no ritmo. O que caracteriza o versolivrismo aqui é uma mudança de atitude e também de crítica: a sílaba deixa de ser a unidade de medida e a combinação de pausas e entoações passa a ser fator relevante.
Manuel Bandeira emprega várias imagens para iniciar o processo de negação dos valores poéticos do passado e depois de defesa de um lirismo libertador; imagens que são modeladas em linguagem cotidiana e que estão baseadas na associação destas ideias de modo a despertar o interesse por uma atualização da inteligência artística. O poema Poética de Manuel Bandeira é um dos paradigmas da estética modernista e uma das mais conhecidas bandeiras de luta dos modernistas por esta atualização poética. Podemos dividir o poema em duas macro partes: repulsa dos elementos normativos e da ordem que transformam a arte em ato burocrático e pregação de um lirismo espontâneo, sem censuras e repressões.

Na introdução do poema deixa claro o caráter contestatório através do uso de reiterações que marcam um descontentamento com o tipo de lírica utilizada dado pela fastidiosa repetição do “estou farto”.

Estou farto do lirismo comedido ...
Estou farto do lirismo que pára ...
Estou farto do lirismo namorador...


A utilização do pronome “todo” reforça a ideia de negação a tudo que não seja o lirismo que não é libertação. Novamente, o poeta distancia-se dos valores tradicionais e nega por completo as manifestações líricas que limitam a liberdade poética com expressões como “abaixo os puristas”, “de resto não é lirismo”, “não quero mais”.

Para expressar mais ainda sua insatisfação, o poeta incorpora elementos estereotipados das estéticas anteriores para ironiza-las, utilizando expressões científicas e imagens típicas do cotidiano moderno. As referências aos “lirismo comedido e bem comportado”.

Convém salientar que a atitude de Bandeira utilizada em todo o poema para ironizar os valores estéticos, que destroem a originalidade, é recorrer a estereótipos que limitam a criação poética, que se caracterizam por racionais, burocráticos, bajulatórios e formais. “Estou farto (....) do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. Diretor ...”. O poeta utiliza uma personagem tipicamente modernista, protagonista das cidades: a figura do funcionário público que trabalha em um ambiente burocrático e que apresenta em seu cotidiano uma série de formalidades que devem ser cumpridas como livro de ponto, expediente rígido e protocolo. Este tipo de lirismo é cada vez mais parodiado quando Bandeira diz que ainda é um lirismo de “manifestações de apreço ao sr. Diretor”. Esta última expressão carrega uma carga de humor e fornece uma característica bastante comum do desenvolvimento histórico do Brasil clientelista,ccujos cargos públicos são conseguidos e/ou mantidos em troca de favores, votos recebidos e bajulações ao “sr. Diretor”. Este lirismo condenado por Bandeira é justamente aquele cujo indivíduo prefere ter uma posição de subalternidade, de bajulação à ordem vigente e de obediência à máquina burocratizante a ter como centro motivador a si mesmo.

Outra estética que Bandeira ironiza no poema é a romântica: o lirismo namorador, político, raquítico e sifilítico. Ao utilizar as formas adjetivas citadas, o poeta caracteriza os principais aspectos abordados pelos poetas românticos e com a forma verbal reafirma novamente que está farto deste tipo de lirismo também.

- Namorador : amor extremo e idealizado e sentimentalismo. - Político: amor à Pátria e o engajamento político dos poetas - Raquítico e sifilítico: o apego à solidão, ao ambiente noturno, ao “mal do século romântico” que os deixam em um estado doentio, debilitado.

(ENEM) “Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.
Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:
a) Critica o lirismo louco do movimento modernista.
b) Critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c) Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
d) Propõe o retorno do movimento romântico.
e) Propõe a criação de um novo lirismo.

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