domingo, 13 de agosto de 2017

Análise: Cibercultura, alguns pontos para compreender a nossa época - André Lemos


Resumo do texto
O autor André Lemos trabalha o conceito de “Cibercultura” em seus diversos aspectos, define como cibercultura como marcada por tecnologias digitais na contemporaneidade. Ressalta que o uso das tecnologias digitais está para atualização cientifica e futura manipulação humana de dados.
A nova dinâmica técnico-social da cibercultura instaura uma estrutura midiática ímpar na história da humanidade onde, pela primeira vez, qualquer indivíduo pode, a priori, emitir e receber informação em tempo real, sob diversos formados e modulações (escrita, imagética e sonora) para qualquer lugar do planeta. Esse fenômeno inédito alia-se ainda a uma transformação fundamental para a compreensão da cibercultura, a saber, a transformação do computador pessoal e um instrumento coletivo e deste ao coletivo móvel (com a atual revolução do “Wi-Fi”, que será com certeza a nova etapa da cibercultura).

Porém a exclusão digital é um fato, embora não seja a única em países como o Brasil. Para além dessa constatação devemos reconhecer que não há mídia totalmente democrática e universal, pois a mídia impressa é lida por uma minoria e metade da população mundial nunca utilizou um telefone. No entanto, podemos dizer que a perseguição da humanidade está associada ao crescimento da artificialização do mundo e a colocação em disponibilidade de cada vez mais escolha informativa. O aumento pode ser constatado se olharmos sob uma perspectiva histórica, desde as sociedades primitivas, fechadas, até as sociedades abertas e avançadas da atualidade. Temos ao nosso dispor cada vez mais informações. A internet é hoje a ponta desse fenômeno. Devemos assim lutar para garantir o acesso a todos, condição essa fundamental para que haja uma verdadeira apropriação social das novas tecnologias de comunicação e informação.

As práticas comunicacionais da cibercultura são inúmeras e algumas verdadeiramente inéditas. Dentre elas podemos elencar a utilização do e-mail, os chats, os muds, jogos tipo role playing games, as lans house, as listas de discussão livres e temáticas, os weblogs, novo fenômeno de apresentação do eu na vida quotidiana (Lemos, 2002c) onde são criados coletivos, diários pessoais e novas formas jornalísticas, sem falar nas formas tradicionais de comunicação que são ampliadas, transformadas e reconfiguradas com o advento da cibercultura a exemplo do jornalismo online, das rádios online, das TVs online, das revistas e diversos sites de informação espalhados pelo mundo. A cibercultura é recheada de novas maneiras de se relacionar com o outro e com o mundo.

Trata-se aqui da migração dos formatos, da lógica da reconfiguração e não do aniquilamento de formas anteriores. Não é transposição e não é aniquilação. Estamos mais uma vez diante da liberação do pólo da emissão, do surgimento de uma comunicação bidirecional sem controle de conteúdo. E novos instrumentos surgem a cada dia.

A arte na cibercultura vai abusar da interatividade, das possibilidades hipertextuais, das colagens (sampling) de informações (bits), dos processos fractais e complexos, da não linearidade do discurso. A arte passa a reivindicar, mais do que antes, a ideia de rede, de conexão, transformando-se em uma arte da comunicação eletrônica. O objetivo é a navegação, a interatividade e a simulação para além da mera exposição/audição.

O corpo sempre foi um constructo cultural e está imbricado no desenvolvimento da cultura. Nesse sentido, o corpo da cibercultura é um corpo ampliado, transformado e refuncionalizado a partir das possibilidades técnica de introdução de micro-máquinas que podem auxiliar as diversas funções do organismo. Assim próteses nanotecnológicas regidas pelas tecnologias digitais podem ampliar e reformular funções ortopédicas, visuais, cardíacas, entre outras.

As cidades contemporâneas já estão sob o signo do digital e basta olharmos à nossa volta para constatarmos celulares, palms, televisão por cabo e satélite, internet de banda larga e wireless, cartões inteligentes, etc. Assim, devemos repensar o uso das novas tecnologias da cibercultura no espaço urbano. O que é o espaço urbano hoje, onde estar perto não é estar no mesmo lugar? O que é o lugar (rua, praça, monumentos) quando temos possibilidade de teletrabalho, tele-estudo, telemedicina? A questão da cidade é crucial para a cibercultura.

Leis da Cibercultura.

Uma primeira é a lei da Reconfiguração. Devemos evitar a lógica da substituição ou do aniquilamento. Em várias expressões da cibercultura trata-se de reconfigurar práticas, modalidades midiáticas, espaços, sem a substituição de seus respectivos antecedentes.

A segunda é a Lei da Liberação do pólo da emissão. As diversas manifestações
Socioculturais contemporâneas mostram que o que está em jogo como o excesso de informação nada mais é do que a emergência de vozes e discursos anteriormente reprimidos pela edição da informação pelos mass media. A liberação do pólo da emissão está presente nas novas formas de relacionamento social, de disponibilização da informação e na opinião e movimentação social da rede. Assim chats, weblogs, sites, listas, novas modalidade midiáticas, e-mails, comunidade virtuais, entre outras formas sociais, podem ser compreendidas por essa segunda lei.

A terceira lei é a da Conectividade generalizada que começa com a transformação do PC em CC, e desse em CC móvel. As diversas redes sócio técnica contemporâneas mostram que é possível estar só sem estar isolado. A conectividade generalizada põe em contato direto homens e homens, homens e máquinas mas também máquinas e máquinas que passam a trocar informação de forma autônoma e independente. Nessa era da conexão o tempo reduz-se ao tempo real e o espaço transforma-se em não espaço, mesmo que por isso a importância do espaço real, como vimos, e do tempo cronológico, que passa, tenham suas importâncias renovadas.

Devemos assim estar abertos às potencialidades das tecnologias da cibercultura e atentos às negatividades das mesmas. Devemos tentar compreender a vida como ela é e buscar compreender e nos apoderar dos meios sócio técnicos da cibercultura. Isso garantirá a nossa sobrevivência cultural, estética, social e política para além de um mero controle maquínico do mundo. O fenômeno ainda está em sua pré-história e esse objeto dinâmico se transformará com certeza.

QUESTÕES (PAS: 3ª ETAPA-2013)
Cibercultura é a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais. Já se vive a cibercultura. Ela não é o futuro que vai chegar, mas o presente (home banking, cartões inteligentes, celulares, palms, voto eletrônico, imposto de renda via rede, entre outros). Trata-se assim de escapar, seja de um determinismo técnico, seja de um determinismo social. A cibercultura representa a cultura contemporânea, sendo consequência direta da evolução da cultura técnica moderna.
André Lemos. Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa época. In: Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003 (com adaptações)

A festa dhies é um dia de celebração marcado por um contexto religioso. Em latim, le dies festus é o dia ‘tocado’ de um signo especial. É o dia da demonstração pública pela qual se deseja ‘tocar’ o espírito do próximo, atrair fortemente sua atenção, mostrar evidência, fazer a celebração triunfar, manifestá-la. Como demonstração pública, a festa possibilita que as pessoas se mostrem para aqueles que desejam olhar, observar evidências e realizar o envolvimento com gente que celebra.
Maria Geralda Almeida. Sentidos das festas no território patrimonial e turístico. In: Valor patrimonial e turismo: limiar entre história, território e poder. São Paulo: Expressão Popular, 2012, p. 158.

A respeito das ideias contidas nos trechos de textos acima e dos múltiplos aspectos a elas relacionados, julgue os próximos itens.
1) As técnicas e as tecnologias atuais trazem novas maneiras de ser, de pensar e de viver, em que a curta duração das coisas e das relações surge como razão singular.
2) A dimensão técnico-científica e cultural da contemporaneidade é totalizante e universal, apesar das contradições que a acompanham, como o individualismo.
3) A história do século XX é também marcada pela emergência de uma sociedade de massas, representada, entre outros aspectos, pela crescente universalização do acesso à educação, pela expansão das mídias e por uma exuberante indústria do entretenimento, de que seriam exemplos o cinema, a televisão, a música e os esportes.
4) Os dois fragmentos de textos se contrapõem na medida em que tratam de signos da modernidade — acerca do advento técnico — e da tradição — a respeito das relações sociais.
5) Sendo o espaço urbano das grandes cidades marcado pelo distanciamento dos que nelas vivem, as festas sacras representam resistências nas grandes cidades brasileiras, por guardarem ainda o caráter proximal e afetivo mencionado no segundo texto.

3 comentários:

  1. "Os dois fragmentos de textos se contrapõem na medida em que tratam de signos da modernidade — acerca do advento técnico — e da tradição — a respeito das relações sociais."
    Se eu disser que eles se contrapõem, eu digo que um tenta anular o outro, certo? Mas a 1 lei da cibercultura não nos diz que na verdade um somente reconfigura o outro?

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  2. Conforme sua análise: "Os dois fragmentos de textos se contrapõem na medida em que tratam de signos da modernidade — acerca do advento técnico — e da tradição — a respeito das relações sociais." Minha interpretação percebe que as relações sociais é permeada pelos dois fenômenos: o advento técnico e a tradição. Assim a reconfiguração das tradições acontecem, nenhuma substitui a outra. A exemplo a escrita não substituiu a tradição oral do mundo antigo, porém a reconfigurou. E hoje se vê em menor magnitude tradição oral. Atualmente a tecnologia reconfigura a tradição escrita, mas não irá substituir interpreto assim.

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