domingo, 1 de outubro de 2017

Análise: Crepúsculo dos ídolos

A principal característica de Friedrich Nietzsch é escrever por aforismo.

Mas o que é Aforismo?
É um texto breve que enuncia uma regra, um pensamento, um princípio ou uma advertência. É um estilo de sentença que articula literatura e filosofia em que a percepção da vida, da sociedade, ou tudo que venha a ser objeto de pensamento, é realçado pela expressividade de uma mensagem verdadeira e concisa. É qualquer forma de expressão sucinta de um pensamento moral. Do grego “aphorismus”, que significa “definição breve”, “sentença”. Alguns sinônimos de aforismos são: ditado, máxima, adágio, axioma, provérbio e sentença.

Para Nietzsche existem dois espíritos antagônicos: o apolíneo e o dionisíaco.
a) Dionisíaco: o deus da música e da embriaguez, o deus que não habita o Olimpo (reino do racionalismo); é a força vital, a alegria, o excesso; a ação, a emoção o sentimento.
b) Apolíneo: o surgimento da filosofia representa o que Nietzsche chama o espírito apolíneo, derivado de Apolo, o severo deus da racionalidade, da medida, da regra, da lei, do método, do equilíbrio, da moralidade.

O que é niilismo? Do latin – Nihilismus. Doutrina segundo a qual não existe qualquer verdade moral ou hierarquia de valores. Em Nietzsche é empregado como para qualificar sua oposição radical aos valores morais tradicionais e às tradicionais crenças. Os valores devem ser afirmativos da existência real do homem, de sua vontade e não da tradição.
• A decadência dos valores teria surgido com Sócrates, que elevou a questão da moral ao comportamento humano, desvinculando-o do prazer que deveria ser buscado por todos.
• A moral defendida por Nietzsche é radical, anticristã e o seu objetivo é o poder, a força e vê na compaixão uma fraqueza a ser combatida.

O Eterno Retorno
É a fórmula que pode sintetizar todo o pensamento de Nietzsche. Ele ataca o platonismo (dualismo platônico) e o paraíso cristão (mundo divino). Para ele só esse mundo é real com suas constantes mudanças. Há apenas perspectivas diferentes sobre um real em transformação e que se repete num eterno retorno → teste pelo qual o homem deveria passar: a vida, revivida inúmeras vezes, não trazendo nada de novo o que pode levar o homem à destruição ou exaltação, dependendo de sua capacidade para superar e admitir essa contínua repetição. Deve-se aceitar a vida com o ela é.

O super-homem
Übermensche: aceitar a vida não é o mesmo que aceitar o homem. O super-homem é a vontade de poder, determinando a nova ordem de valores. É o líder guerreiro, altamente disciplinado. É o novo homem que quebrará as velhas cadeias e criará um novo sentido na terra. É o homem que vai além do homem. O cristianismo doma o espírito e enfraquece a vontade de poder, da conquista, da paixão. O santo cristão é o resultado do medo do inferno e não do amor à humanidade.

• A racionalização histórica levava o homem a "perder-se ou destruir seu instinto fazendo com que ele não ouse soltar o freio do 'animal divino' quando a sua inteligência vacila e o seu caminho passa por desertos.

• Ideia da necessidade da formação de uma nova elite - não contaminada pelo cristianismo e pelo liberalismo - e que ao mesmo tempo os transcendesse, acometeu Nietzsche desde muito cedo. Mostrou-se obcecado pela formação de uma seleta falange intelectual responsável pela transmutação de todos os valores, cuja obrigação e dever maior era a proteção de uma cultura superior ameaçada pela vulgaridade democrática.

O Crepúsculo dos Ídolos
É obra que apresenta uma crítica aniquiladora de todas as "verdades" que se entronizaram no Ocidente. Crepúsculo do Ídolos é um dos escritos centrais de Nietzsche pela violência com que fustiga a religião, a política, a razão e a ciência, ao mesmo tempo que promove a imagem do homem vitalmente liberto.
“Não sou, por exemplo, nenhum bicho-papão, nenhum monstro de moral – sou até mesmo uma natureza oposta à espécie de homem que até agora se venerou como virtuosa. Entre nós, parece-me que recisamente isso faz parte de meu orgulho. Sou um discípulo do filósofo Dionísio, preferiria antes ser um sátiro do que um santo”. (Ecce Homo, prólogo). É assim que Nietzsche se descreve em sua autobiografia. Idolatrado por alguns, menosprezado por outros, ele é, de fato, um irreverente – ou talvez, melhor seria dizer, um extemporâneo.
Trata-se de uma síntese e introdução a toda a sua obra, e ao mesmo tempo uma "declaração de guerra". É com espírito guerreiro que ele se lança contra os "ídolos", as ilusões antigas e novas do Ocidente: a moral cristã, os grandes equívocos da filosofia, as ideias e tendências modernas e seus representantes. De tão variados e abrangentes, esses ataques compõem um mosaico dos temas e atitudes do autor: o perspectivismo, o aristocratismo, o realismo ante a sexualidade, o materialismo, a abordagem psicológica de artistas e pensadores, o antigermanismo, a misoginia. O título é uma paródia do título de uma opera de Wagner, Crepúsculo dos deuses. No subtítulo, a palavra "martelo" deve ser entendida como marreta, para destroçar os ídolos, e também como diapasão, para, ao tocar as estátuas dos ídolos, comprovar que são ocos.

Por Friedrich Nietzsche
“O resto é aborto e ainda não ciência: quero dizer, metafísica, teologia, psicologia, teoria do conhecimento. Ou ciência formal, teoria dos signos: como a lógica e aquela aplicada, a matemática. Nelas, a realidade absolutamente não aparece, nem sequer como problema; tampouco pergunta acerca do valor que, afinal, possui uma convenção de signos como a lógica.” (NIETZSCHE: 1888, p. 36)

Principais obras: Assim falou Zaratustra – 1883-85 (onde expõe a ideia do eterno retorno e da derrota da moral cristã pelo super-homem); A Origem da Tragédia – 1872 – seu primeiro livro onde faz uma crítica a cultura grega e sua influência no desenvolvimento do pensamento ocidental. E em 1888 o Crepúsculo dos Ídolos – como filosofar a marteladas.

Bibliografia:
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos Ídolos, ou, Como se filosofa como o martelo. Tradução de Renato Zwick. Porto Alegra, Rs: L&PM, 2017.
MAZAI, Norberto. Resenha Estudo de Filosofia. Disponível em: Acesso em 01 de outubro de 2017.

(QUESTÃO PAS-UNB 3ª ETAPA-2016)
Com relação à interpretação de aforismos retirados da obra Crepúsculo dos Ídolos, de Friedrich Nietzsche, julgue os itens de 1 a 3 e assinale a opção correta no item 4, que é do tipo C.
1. Em “O verme se enconcha quando é chutado. Essa é a sua astúcia, ele diminui com isso a probabilidade de ser novamente chutado. Na língua da moral: humildade”, Nietzsche relaciona a ideia cristã de humildade à covardia.
2. No aforismo “Que não se venha a cometer nenhuma covardia contra as próprias ações! Que não as abandonemos em seguida! O remorso é indecente.”, Nietzsche defende a noção de responsabilidade social.
3. No aforismo a seguir, escrito na porta da casa de um antissemita: “Como? Vós escolhestes a virtude e o peito estufado, mas olhais ao mesmo tempo invejosamente para as vantagens dos inescrupulosos? Com a virtude renuncia-se, contudo, às ‘vantagens’ (...)”, Nietzsche critica a pretensa virtude da renúncia, que, para ele, é uma forma de ocultar fraquezas.
4. No aforismo “Quem não sabe colocar sua vontade nas coisas ainda insere nelas ao menos um sentido: isto é, crê que uma vontade já esteja nelas (princípio da ‘fé’)”, Nietzsche sustenta, entre outras teses, a de que as coisas não possuem vontade de qualquer tipo.
5. No aforismo “O homem criou a mulher. A partir de que, porém? De uma costela de seu Deus ― de seu ‘Ideal’ (...)”, Nietzsche sustenta que
a) A versão bíblica do surgimento da mulher é verdadeira, a despeito de o autor ser um crítico das religiões em geral, e do cristianismo em particular.
b) A versão bíblica do surgimento da mulher é uma projeção masculina que se pretende justificar pela referência a um ato divino.
c) A mulher é um ideal divino, e sua criação foi um ato da vontade de potência de Deus.
d) Deus é um ideal que carrega consigo traços femininos e, por isso, foi criado pelos homens.




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